30 September 2012

AS COISAS TRANSITÓRIAS


Rabindranath TagoreNascimentos, mortes, a florzinha que alegrava meu jardim já tornou-se pó.
Lembro que ontem brincava de roda e aprendia com meus professores no Estadual da Penha. 
Hoje sou eu a professora e aprendo com meus alunos.
Meu pai que ontem me ensinou a nadar hoje é a água e o vento que acarinham minha face.
O colo de minha avó Anna ainda está ao alcance do meu fechar de olhos, só que hoje sou eu a cuidadora...
Mestre Apurva me ensinou o poder da meditação, o alimento que brota no silêncio e a alegria que nasce do compartilhar puro.
Sim, penso que tenho aprendido sobre a vida e sobre os homens, sobre mim mesma e sobre a transitoriedade de tudo. 
E entre a vida e a morte, a arte de viver bem.
As Coisas Transitórias  Rabindranath Tagore Escritor, poeta e músico (1861 - 1941) in "O Coração da Primavera" 
Tradução de Manuel Simõe
Irmão, nada é eterno, nada sobrevive. Recorda isto, e alegra-te. 

A nossa vida não é só a carga dos anos. A nossa vereda 
não é só o caminho interminável. 
Nenhum poeta tem o dever 
de cantar a antiga canção. 
A flor murcha e morre; 
mas aquele que a leva 
não deve chorá-la sempre... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Chegará um silêncio absoluto, 
e, então, a música será perfeita. 
A vida inclinar-se-á ao poente 
para afogar-se em sombras doiradas. 
O amor há-de ser chamado do seu jogo 
para beber o sofrimento 
e subir ao céu das lágrimas ... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Apanhemos, no ar, as nossas flores, 
não no-las arrebate o vento que passa. 
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos 
roubando beijos que murchariam 
se os esquecêssemos. 

É ânsia a nossa vida 
e força o nosso desejo, 
porque o tempo toca a finados. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Não podemos, num momento, abraçar as coisas, 
parti-las e atirá-las ao chão. 
Passam rápidas as horas, 
com os sonhos debaixo do manto. 
A vida, infindável para o trabalho 
e para o fastio, 
dá-nos apenas um dia para o amor. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Sabe-nos bem a beleza 
porque a sua dança volúvel 
é o ritmo das nossas vidas. 
Gostamos da sabedoria 
porque não temos sempre de a acabar. 
No eterno tudo está feito e concluído, 
mas as flores da ilusão terrena 
são eternamente frescas, 
por causa da morte. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" 
Tradução de Manuel Simões

No comments:

Post a Comment