17 July 2011

CONTOS DE ANA VEET MAYA

por Ana Veet Maya
foto: armazemdesonhos.com.br

Gosto de escrever sobre tudo.
Às vezes minha inspiração sai em forma de poesia, outras, um texto.
Tem momentos que só quero mesmo é divulgar um amigo, compartilhar algo muito bom e só.
Pra não misturar as tendências, criei um blog apenas pra textos, outro apenas pra poesias e outro para contos.
O blog dos contos não seguiu, porque minha fome de escrever “contos” não é tão grande e preferi tirar o blog do ar, pra não ficar aquela energia estagnada, só com coisas velhas.
Então, toda vez que escrever algum conto que eu goste, postarei aqui neste blog mesmo.
E hoje quero compartilhar um dos meus contos mais lidos.
É o “SOLTEIRA DE NOVO”.
As relações amorosas hoje em dia são cada vez mais curtas e estudos já apontam que a tendência atual é de durarem apenas de 3 a 5 anos!
E eu, mulher madura, do tempo do “até que a morte os separe”, às vezes preciso chacoalhar meus conceitos e preconceitos pra me adaptar.
E viva a modernidade!
Sempre sim pro aqui-agora!
Um abraço a todos os amigos e leitores.
Vocês fazem parte da minha inspiração!

SOLTEIRA DE NOVO um conto de Ana Veet Maya escrito em 2008
foto: irresistivelmulher.blogspot.com

Depois de chorar sete dias, gemer, gritar, bater a cabeça na parede, hoje pela primeira vez, ela saiu de casa.
Foi ao cabeleireiro. Grande coisa.
Pelo menos tingiu os brancos de cima. Mas e os de baixo? Pentelhos brancos... Que broxante!
Limpou a pele.
Os olhos caíram. O peito caiu.Tudo caiu.
Mas estava contente consigo mesma: sete dias e não o procurara nenhuma vez.
Chegou em sua casa feliz, com seu cabelinho fake, sua sobrancelha fake e seu rosto expressivo e verdadeiro, todo enrugado de tanto chorar.
Porcaria.
Ligou o PC e começou a navegar sem destino. Viu uns tubes, ouviu umas músicas, jogou, brincou no chat.
Nada.
Seu pensamento era totalmente dele.
Separações modernas são tão civilizadas...
Maldição.
Ela detestava isso tudo.
Começou a sentir uma comichão. Não sabia dizer aonde é que estava começando aquilo. Começou a suar. Não agüentou e mandou um torpedo.
Silêncio.
Ele não respondeu.
Idiota.
Entrou no facebook.
Ele estava "on".
Oh God! Tenho que resistir!
Não resistiu.
- Oi.
Que fraqueza, pensou.
Sentiu-se uma nonsense sem caráter, sem auto-estima, sem um pingo de vergonha na cara.
Conversaram muito bem, bons amigos.
Nenhum sinal da parte dele de recaída.
Não negou que sentia a falta dela, mas fez questão de publicar no jornal que estava adoraaaaaaaaaando viver sozinho...
- Eu também estou, quem não adora, não é?
Aaaaaaaaaaaaaaah, socorro! Gritou mentalmente sentindo que ia começar a chorar.
Fechou a janela do chat.
Uma hora mais se passou.
Ela estática.
Sorumbática.
Lívida. Enjoada. Irritada.
Vontade de vomitar.
- Sei que vou enfartar!
Coração disparado.
23h e ela não resistiu.
Deixou seu ID no privado e ligou pra ele!
Que vagabunda sem caráter e carente que eu sou. Prostituta de merda, uma vaca. Só mesmo uma mulher sem caráter e sem vergonha alguma pra fazer isso! Procurar o ex!!!
Reconheceu-se miseravelmente infeliz, morta de saudade dele, completamente vulnerável, humana. -Merda, falou.
Ele atendeu de primeira o fone "privado".
Mentiroso, pensou. Disse que nunca atendia um telefone privado, que era perigoso. Perigoso de cu é rola. Falso.
- Sou eu, meu bem!
Silêncio.
Um suspiro que dizia: - Ó senhor, daí-me paciência. Só por Belzebu!
Tratou-a bem, meio que mecanicamente, assim que reconheceu o artifício que usara.
Ela convidou-o a "fantasiar"...
- Não era isso o que você vinha fazendo nos últimos meses pela internet?
Perfis fakes no Orkut, facebook, aquelas pesquisas intermináveis nas madrugadas e que deixavam a memória do PC completamente comprometida, totalmente cheia e poluída, com tanta pornografia. Sem contar os vírus.
E os chats de cybersexo que graças a sua amiga hacker conseguira ler? Um nojo, uma vergonha, uma baixaria. Nada do que ele fazia com ela. Imagine!Só fazia aquela putaria pela internet...
Será que também fazia ao vivo? Não. Não poderia acreditar.Seu coração apertou ainda mais.
- Vou marcar um exame de sangue lá no CRAS.
Cybersexo. Que droga é isso mesmo? Não conseguia conceber como alguém podia de fato sentir prazer com essa coisa virtual.
Ela fora tão magoada, tão espezinhada, tão maltratada.
Não sentia prazer nem mais ao vivo. Imaginou pela internet?
- Você gosta de fantasiar, fantasie comigo... Estou usando aquela calcinha que te dá tesão e estou molhadinha ouvindo sua voz...
Foi muito cedo essa sua tentativa. Um erro de estratégia. Ele não quis.
Afirmou que queria somente a amizade dela.
Socoooooooooorro! Que humilhação!
- São Alpino socorrei-me! Falou ela chorando.
Desligou o telefone. Maldito telefone. Desligou o PC. Chutou o PC. Atirou o teclado longe. Só o teclado. Era o mais barato pra comprar novo. Até pra surto de loucura, há que se pensar nas conseqüências.
Desligou sua mente.
Meditou.
Fêz massagem no corpo. Nada adiantou. Chorou de novo.
Mas não sentiu culpa.
Afinal, pensou, quem ama, tenta.
Dormiu bem.
No dia seguinte acordou sozinha sem despertador.
E sem seu homem do lado. Só o cachorro.
Acordou cedo. Bem cedo.
O que o dia lhe prometia?
O que fazer com essas férias repentinas?
Agora teria que agüentar.
Levantou.
Olhou a cara. Inchada. Teria chorado até sonhando? Uma imbecil sentimental.
Massagem. Já! A pele do rosto, do corpo, sua cabeça, seu coração. Tudo seco.
Marcou com seu personal trainner.
Há pelo menos 5 anos ele tentava lhe "comer", pensou ela sorrindo palidamente.
Sempre resistiu. Mas, ai, meu Deus! E agora? Será que ele ainda está gostoso? Sedutor?
Dane-se ele também. Pensou. Quero malhar.
Ele chegou!
Ah, não!
Ele está super acabado! Podrão. Nem como prêmio de consolação!
Vou desistir da ginástica!
Talvez uma operação plástica seja mais eficiente.
Pra ele, claro, não pra mim.
Pensou ela, dessa vez, gargalhando em alto e bom tom.
Seu amigo lhe falara que quem se separa fica sempre "bonito".
Decidiu. À noite aceitaria aquele convite pra sair.
Afinal, há dois anos ele também tentava lhe seduzir. E ela, fiel, também falava não.
Por que não? Pensou. Agora estou livre (seu coração chorou um pouquinho ao ouvir essa palavra).
Amizade com gosto de sexo.
Quem sabe isso lhe fizesse bem pra saúde do corpo, da alma e da mente.
Afinal, nem só de casamentos vive o homem.
A fila anda, diziam suas amigas separadas.
Ele gosta de jazz... O diabo é que pareço argentina, gosto de tango! Mas olhando bem de pertinho, estou mais pra uma tragédia mexicana...
Valei-me meu São Alpino! Gritou ela em alto e bom som.
E comeu um bom teco de chocolate.
E gargalhou mais uma vez, desta vez, com a alma.
Dois meses se passaram nesses jogos e fetiches de recém-separados.
Um tédio. Um encanto. Uma descoberta. Uma lágrima. Muitas gargalhadas.
Afinal não morri! Pensou ela naquele dia.
Descobrira que chocolate era mesmo gostoso, prático, energético, digestivo.
Afinal, chocolate lhe deixava alegre, feliz e não tinha que por camisinha pra comer!
Aliás, quem come quem mesmo?
Sentia-se bem, sexy. O mundo inteiro a queria.
E ela pensava se a mulher separada libertava mesmo o tal de feromônio, algo muito excitante e convidativo...
Todas suas amigas separadas diziam que passaram por essa mesma fase sedutora.
Ela se divertia falando não.
Topou sair com ele depois de dez dias de chat.
Sua amiga casara com um cara que conheceu numa sala de bate-papo.
O fulano escrevia bem e dizia que era o cão.
Pelo menos, foi sincero. Já se apresentou como um cão!
E o que se esperar de um cão? Que agarre qualquer cadela no cio!
Ai meu São Alpino, gargalhava ela toda vez que ele aparecia piscando no chat.
O cara escrevia muito bem, começou mesmo a rolar um link.
Saíram pra jantar.
Gostou dele: sorriso contagiante, uma boca contagiante, um braço forte, malhado, tudo forte nele. Excelente primeiro encontro.
Ela ficou feliz.
Chegou o segundo encontro, ninguém é de ferro, pensou ela, a carne é fraca, até minha avó dizia isso. Concordou em ir pro motel.
E ela se permitiu variar. Variou posições. E lugares. E gostou.
E pensou, oras, se a vibe é a do cão, que seja tudo então bem animal.
Seu ex sempre lhe falava que era santinha e careta.
Valei-me meu São Alpino. E descobriu uma outra função para o chocolate...
É. Vivendo e aprendendo, pensou.
Era véspera de feriado.
A noite terminou.
Um novo dia começou e as lembranças pareciam todas muito distantes.
Pediu que ele a deixasse na Liberdade.
Foi andar e refletir.
Libertas quae será tamen.
Oras! Nem só de sexo vive a mulher.
No dia seguinte foi trabalhar bem cedinho.
O seu celular tocou.
Leu “ privado” no visor.
Será que é ele?
Não atendeu.
Poderia ser de fato muito perigoso.
Sorriu e engatou a primeira.
Solteira de novo.

(SOLTEIRA DE NOVO um conto de Ana Veet Maya escrito em 2008)

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