26 May 2017

FALAR BEM EM PÚBLICO : PALAVRA, PALAVRÃO X PRECONCEITO, por Ana Veet Maya

É facultativo a cada um escolher as palavras que serão usadas no seu cotidiano e que irão compor um traço da sua "marca" e, por consequência, do seu marketing pessoal. 

Existem pessoas que nunca falam nenhum palavrão, nem mesmo quando dão uma topada com o dedo do pé numa quina de mesa...

Outras, expressam esse vocabulário menos nobre entre quatro paredes e com seus parceiros sexuais...

Entretanto, existem as que não vemos falar uma frase, sem terminar ou iniciar com um palavrão daqueles.


Seja como for, o uso ou o não uso do palavrão é uma escolha pessoal.

Mas devemos lembrar que vivemos numa sociedade preconceituosa, excludente e cheia de discriminação.

A não ser que façamos parte de um grupo ou uma comunidade onde o palavrão é aceito, as pessoas que dizem seguir a "norma culta" da língua, poderão discriminar quem faz uso do palavrão... Isso é real!

Cabe a cada um de nós estudarmos o meio em que vivemos, analisarmos o nosso grupo, sabermos quem é nossa "plateia"...

Dercy Gonçalves falou palavrões e teve um público fiel até morrer, mas também sofreu e foi muito discriminada. Mas viveu bem o quanto quis, realizou grandes sonhos e até hoje faz parte do nosso cotidiano, é personagem e tema de memes que rolam na rede... Toda vez que alguém quer falar um palavrão e não quer ele mesmo dizer, pronto, usa a Dercy... 

O meu conselho ao meu aluno e leitor é que seja prudente, nem tanto ao mar e nem tanto a terra...

A nossa fala para ser marcante e colorida, dever ser diversificada, conter várias expressões, ser rica, apropriada e certeira.

Hoje, depois de mais de quarenta anos exercendo minha profissão, com certeza não tenho medo da palavra.

Sei que a palavra tem poder.

E, conforme a situação, conforme o sentimento, saberei escolher a palavra mais certa que representará fielmente o meu interior.

Assim, ao invés de falar o "número 2", evacuar, fazer cocô, ou somente emudecer e/ou gesticular, quando necessário eu falo "cagar", "cagando", etc... 

As expressões chulas e menos nobres são impactantes e nem todos as querem ouvir...

Mas penso que em certos momentos da nossa vida, não há muita rima, nem palavras cheirosas ou bonitas, para descrever a parte humana que pouco a pouco fenece, apodrece e será enterrada: nosso humano corpo. 

E as doenças, os excrementos, o bafo, o vômito, a diarreia, a constipação intestinal, a cirrose, os cálculos renais, todos os cistos, nódulos ou tumores, todas as doenças com o sufixo ite, ão ou qualquer outro com conotação que infere gravidade, toda essa parte chata, dolorosa e fedida que diz respeito a nossa curta passagem terrena, nos dá uma dimensão mais exata de que somos todos diferentes,únicos, mas iguais na dor. E no fedor. 

Há tempos li uma pichação num muro a qual nunca esqueci: 
- O Papa também peida! 

Que força!
Esta constatação da realidade acaba com toda e qualquer casta, classes, partidos e divisões!

A força da retórica pode em uma frase apenas destruir ilusões de soberba, ganância e poder! 

Todos nós fedemos, morreremos e iremos apodrecer...

Uma boca rica e linda, de dentes brancos e cuidados, pode ser aquela boca que usa tão somente palavras de extermínio, manipulação e aniquilação. O contrário é possível também.

Que possamos aprender a apreciar e respeitar a todos os seres viventes, cada qual com sua honra e seu mistério, com sua forma peculiar de contribuir para a nossa humanidade, seja lá qual seu poder,, seja lá quais palavras use, desde que seja para a construção do bem comum!
anaveetmaya 




1 comment:

  1. Olá... tudo bem? não sei se um comentário numa publicação tão antiga vai aparecer... espero que sim... cheguei ao seu blog após procurar no google pela frase "o papa também peida", que também vi num muro muuuuitos anos atrás - se minha memória não me engana em 1982, ali próximo ao Pacaembu (Rua Traipu?). Será que vimos a mesma pichação?

    ReplyDelete